domingo, 29 de junho de 2008

Comentários sobre o nosso primeiro sarau

Olá, amigos!
Por ser nosso primeiro sarau, acho que o resultado foi bastante satisfatório: organização eficiente, textos bem escolhidos, quantidade de público razoável, comes e bebes saborosos. Como crítica, sugiro aos colegas que já produzem poesia de tanta qualidade que não deixem passar oportunidades como essas para lerem seus próprios poemas; senti falta da leitura desses poemas.

No que tange à minha participação, creio que poderia ter me preparado melhor ao invés de falar meio no improviso. No entanto, valeu para quebrar o cadarço e, como me ensinou o professor Gabriel, depois que passou não adianta ficar chorando o café derrubado. De qualquer forma, apenas como exercício literário, reelaborei a minha pequena fala que antecedeu à leitura do poema, reutilizando algumas coisas que disse, introduzindo outras, enfim, dando uma turbinada para ver se das próximas vezes consigo melhorar. Transportem-se agora ao mundo do faz-de-conta, dirigindo-se à sala 1 da esdc, no dia 28 de junho último, por volta das l6h40 e acompanhem minha velha-nova apresentação:

"Boa tarde a todos!
Meu nome é Marcelo e sou um dos novos integrantes do curso de formação de escritores. Gostaria de ratificar as palavras do colega Sady e dizer que realmente a qualidade do curso é ótima, pois há um envolvimento e uma seriedade muitos grandes por parte de todos os alunos e também dos professores. Há uns dois meses li a matéria que saiu publicada no Jornal da Tarde e vim assistir a uma aula como convidado e logo percebi que iria gostar de fazer parte deste grupo pioneiro.

Como vocês podem perceber, eu estou bastante nervoso, sinto minhas pernas tremerem, meu coração bater mais forte e mais rápido, minha boca seca e parece que eu estou gaguejando o tempo todo. Mas, acreditem, antes de estar aqui na frente, fiquei enfiando um pouco o dedo na garganta mas não deu certo.

Ah, acho que apenas os colegas do curso poderão entender o que acabei de dizer. É que na aula da quinta-feira passada o professor Gabriel nos explicou que, segundo estudos desenvolvidos por um psicólogo americano, quando vamos nos deparar com uma situação de medo, devemos enfrentá-la vomitando de uma maneira bastante autêntica, bastante verdadeira, bastante real, em todos aqueles que estão à nossa frente. Isso serve para nos acalmar e fazer com que o fantasma do medo desapareça. Como já disse, antes de estar aqui na frente enfiei algumas vezes o dedo na garganta, mas realmente não estou com vontade de vomitar.

Peço desculpas a todos pois a essa altura da minha fala, conforme me ensinou o professor Gabriel, já era para vocês estarem melecados, emporcalhados e cheirando azêdo, e com isso eu estaria totalmente calmo, pronto para ler a minha poesia para uma platéia atenta e interessada.

Bem, estou com quarenta e um anos de idade, fui alfabetizado aos sete, portanto sou poeta há exatos...deixe-me ver...trinta e três, digo, trinta e quatro, isso, há exatos trinta e quatro dias, desde que iniciei este curso.

Minha produção poética ainda é bastante modesta, é de dois poemas até agora, daí a dificuldade em escolher apenas um para apresentar nesta tarde.

Quando criei esses poemas, mostrei-os ao professor Nélson, que ministra o módulo "Poesia e outras artes". Ele olhou, olhou, coçou o queixo, passou os dedos pelas suas madeixas, olhou de novo e, só então, eu comecei a desconfiar de que ele não estava gostando. Porém, já estou percebendo que os poetas, além de idealistas e sonhadores, são verdadeiros cavalheiros e que, mesmo quando têm de fazer uma dura crítica, conseguem ser gentis.

Disse o professor Nélson: "Marcelo, para quem está começando, seus poemas são bons, você está no caminho certo...". Por um instante, fiquei aliviado, mas, de repente, veio a facada dada com luva de pelica: "...sim, Marcelo, você está no caminho certo, seus poemas têm, cada um, dois quartetos e dois tercetos, realmente são um belo exemplo de soníferos."

Confesso que baqueei, senti o golpe, mas imediatamente me reergui e consegui entender que, se o mestre estava sendo duro com seu discípulo, era para realmente fazer dele, um dia, um poeta com P maiúsculo.

Desde já agradeço ao professor Nélson, que me orientou a ler poesia começando pelos grandes poetas. Acho que comecei bem, pois até agora tenho lido Manuel Bilac, Olavo Bandeira, Álvares de Oliveira, Márcio Quintana, etc.

Bem, chega de conversa e vamos à leitura do poema, que está neste livrinho que eu tenho nas mãos. Puxa...só agora percebi um erro aqui na capa. Está escrito MANUEL BANDEIRA, e não OLAVO BANDEIRA. Certamente é um erro de impressão, por isso estava tão baratinho no sebo. Já ouvi dizer que tudo quanto é livro com defeito e que a editora não pode vender ela repassa para os sebos como refúgio.

Vamos ao poema:

ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma,
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entender, mas as almas não.

MUITO OBRIGADO A TODOS."

4 comentários:

Nanete Neves disse...

Marcelo, concordo: naquele sarau, algo mágico aconteceu: você rompeu o cadarço! Bom prá nós que adoramos a sua performance, que estamos curtindo seu novo-eu mais soltinho, e melhor ainda para a sua produção que, estou certa, vai longe!

Claudia disse...

Marcelo, adorei sua apresentação no sarau, e nem precisaria ser reescrita. De qualquer modo, foi ótimo reler por aqui, e deixar gravada essa experiência.
Um beijo, Clau*

Sady Folch disse...

Doutor Marcelo, a sua apresentação foi inesquecível. Mais ainda será um dia essa turma que se formou ao redor das letras.
Abraços
Sady

JULIO CARVALHO disse...

o mundo é cheio de surpresas!
vc foi uma delas!